Serie A busca reconquistar o topo: como a liga italiana tenta ressurgir no cenário global

Com clubes competitivos, novos contratos de transmissão e uma estratégia de expansão internacional, a Serie A busca recuperar o status


Por Guilherme Calafate

14 de março de 2025

Nos anos 1990, a Serie A era o epicentro do futebol mundial. Clubes italianos atraíam os melhores jogadores do planeta, impulsionados por investimentos ambiciosos e forte presença televisiva. No entanto, escândalos de manipulação de resultados, crises financeiras, infraestrutura obsoleta e uma abordagem defasada na comercialização da marca resultaram na perda de protagonismo para ligas como Premier League, LaLiga e Bundesliga.

Agora, a liga italiana busca um renascimento. Luigi De Siervo, CEO da Serie A, declarou em recente entrevista ao portal SportsPro que a liga tem potencial para voltar ao topo do futebol europeu, impulsionada por novos contratos de transmissão, investimentos em infraestrutura e a oportunidade de co-sediar a Euro 2032 com a Turquia.

Aposta na estabilidade doméstica

A recente negociação de direitos de transmissão domésticos foi um passo importante para garantir previsibilidade financeira. O novo contrato de €4,5 bilhões por cinco anos com DAZN e Sky representa um pequeno declínio em relação ao acordo anterior, mas De Siervo destacou que a duração mais longa proporciona estabilidade para os clubes planejarem suas operações.

Havia a expectativa de que a liga seguisse o caminho do modelo “direct-to-consumer” (DTC), similar ao que algumas ligas estão explorando, permitindo a transmissão direta aos torcedores sem intermediários. No entanto, os clubes optaram pelo caminho tradicional, garantindo receita imediata e evitando riscos semelhantes aos enfrentados pela Ligue 1, que sofreu com a quebra de acordos de transmissão.

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O desafio da internacionalização

Se a Serie A conseguiu estabilidade no mercado interno, internacionalmente a realidade ainda é desafiadora. A liga pretendia triplicar sua receita de transmissão global até 2030, mas fatores macroeconômicos e a falta de um plano de expansão agressivo no passado dificultaram o crescimento. Ainda assim, a liga firmou contratos com CBS (EUA), TNT Sports (Reino Unido) e DAZN (Espanha) para ampliar sua presença fora da Itália.

Em entrevista ao SportsPro, De Siervo admitiu que a Serie A perdeu a chance de se globalizar há 20 anos, quando dominava a cena europeia. Enquanto a LaLiga capitalizou a rivalidade entre Barcelona e Real Madrid e a presença de astros como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, o campeonato italiano não soube explorar comercialmente sua era dourada. Agora, com cinco clubes italianos na Champions League e um futebol mais competitivo, a liga tenta recuperar terreno.

Tecnologia e engajamento dos torcedores

Para conquistar audiências internacionais, a Serie A está investindo em produção audiovisual de alta qualidade, utilizando tecnologias avançadas de transmissão para oferecer uma experiência imersiva aos torcedores. A liga conta com uma estrutura de produção própria, com diretores focados tanto no jogo quanto nos momentos fora das quatro linhas, criando uma narrativa mais atraente para a audiência global.

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Expansão para o exterior e impacto da propriedade estrangeira

Uma das principais estratégias para aumentar o reconhecimento da Serie A globalmente é a realização de partidas fora da Itália. A Supercopa Italiana já foi disputada na China, Catar, EUA e Líbia, e agora a liga quer ser a primeira grande competição europeia a realizar uma partida da temporada regular nos Estados Unidos. O mercado americano tem sido um alvo crescente para o futebol italiano, com diversos clubes sendo adquiridos por investidores dos EUA, incluindo Milan, Inter, Roma, Fiorentina e Atalanta.

Embora o capital estrangeiro traga expertise comercial e novos investimentos, a resistência dos torcedores à mudança de identidade dos clubes e a falta de estádios modernos ainda são desafios significativos. A maioria dos estádios italianos pertence a prefeituras e não aos clubes, dificultando investimentos diretos e melhorias na experiência dos torcedores.

Euro 2032 como catalisador do crescimento

A co-organização da Eurocopa de 2032 com a Turquia é vista como uma grande oportunidade para modernizar a infraestrutura esportiva da Itália e impulsionar a popularidade do futebol no país e no exterior. A expectativa é que o torneio motive investimentos em novos estádios, garantindo um legado duradouro para os clubes italianos.

Perspectivas de futuro

A Serie A está em um momento crucial de sua história. Com clubes mais competitivos, novos contratos de transmissão e uma estratégia de expansão internacional, a liga busca recuperar o status de uma das principais competições do mundo. No entanto, desafios estruturais, como a falta de modernização dos estádios e a necessidade de um planejamento mais assertivo para conquistar mercados internacionais, ainda precisam ser superados. O sucesso dessa nova fase dependerá da capacidade da liga em equilibrar tradição e inovação, garantindo um futuro sustentável e competitivo para o futebol italiano.

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